A fronteira do beijo

Era noite já bem carregada de negro e estrelas. O som das bandas do festival já tinha acabado à umas quantas horas mas eles os dois estavam ali, a falar num tom misturado de despedida e de ternura. Estava na hora, ele tinha que ir embora e o derradeiro momento da despedida tinha chegado. O relógio já se tinha perdido no tempo e o tempo que parecia ter passado tão depressa agora estava num impasse devagar que as imagens pareciam em câmara-lenta e até podiam demorar a eternidade, só pra que ela não tivesse que o ver ir embora por entre a poeira dos saltos da multidão, dos copos de plástico caídos no chão e de todas as luzes que iam e vinham de encontro ao seu corpo franzino e imóvel.
Ele disse "tenho que ir", aproximando-se e o corpo dela tremeu. Ele chegou mais perto ainda e o tempo parou por completo. Os lábios dele no canto dos dela, entre o beijo amigo da bochecha e o beijo carinhoso dos lábios, na fronteira da amizade e da paixão. E ela deixou de reagir, a sua alma deixou de estar no corpo e saiu para fora do peito. Ele foi-se, e ela só sorria com um sorriso terno de que será um início bom.

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