Um grande texto que fala de um grande homem: o meu Pai

Saí de Faro num Intercidades verde, como todos os outros. Liguei o iPod e esquiquei os meus pés pelo banco do lado que ia vazio. Abri o meu livro e li.o durante as 3 horas que se seguiram. "Próxima paragem Sete Rios". Peguei na mala e fui à procura do escritório onde o meu pai trabalha, perto das Twin Towers de Lisboa que a meu ver de gémeas só o nome! Dei surpreendentemente bem com o tal sítio e quando cheguei instalei-me na secretária branca ao lado da dele, também branca. Nela continha um computador e um ecrã, que ele trabalha em simultâneo. Ao lado do computador no qual mais funciona há uma moldura de madeira pintada de verde muito simples. Nela estão 3 pequenas meninas. as 3 muito sorridentes. Deu-me vontade de chorar. As 3 meninas somos nós.
Eu sei que o meu pai pouco me conhece. Sabe que sou teimosa, tonta, sonhadora, um bocado desapegada mas que me afinco nos estudos e não lhe dou grandes problemas. No fundo até sou uma boa filha. Mas não sabe muito mais, não sabe se acredito em Deus, ou em Buda ou em nada dessas figuras que não existem e que as pessoas em momentos de aflição agarram. Não sabe qual é a minha cor preferida nem a comida que mais gosto. Não sabe porque não pergunta, porque acha que vou ser sempre igual a mim mesma e que nunca vou mudar, ou crescer. Sabe que sou a sua filha do meio, há pelo menos 18 anos, bonitinha como as minhas irmãs e a mais parecida com ele. Sou reservada como ele no que toca a expor os meus sentimentos aos outros (com a excepção da escrita que aprendi a ser a minha forma de "confissão" e de resolver os meus conflitos interiores da forma mais pacífica). Não sabe muito mais de mim, mas agora tenho a certeza que nos ama, que pensa em nós no trabalho, pelo menos quando, por breves segundos, olha os nossos rostos pequenos de meninas pequenas e sempre pequenas, as suas meninas.
Ao ver a fotografia, deu-me um aperto tão grande no coração, uma vontade de chorar e de dizer que o amava, que ele era a minha referência e que quando ele me abraçava eu sentia-me sempre pequenina, sentia-me a menina da fotografia.
Eu não sei muito do passado dele, mas não interessa, porque somos iguais, sou feita do tecido dele e amo-o com toda a minha alma e toda a minha vida que ele e a minha mamã me deram no dia 3 de Maio de 1994 por volta das 6 da tarde.
Eu vou ser sempre pequenina, e vou ter sempre na cabeça a imagem do meu pai pegar-me ao colo sempre que eu adormecesse no sofá para me levar para a cama e mesmo que eu acordasse, como tantas vezes acontecia, fingia-me ainda adormecida, porque não queria que ele dissesse que já que estava acordada podia muito bem ir pelo meu próprio pé. Queria que ele me levasse como uma princesa, queria ser pequenina a vida toda, nos braços grandes e quentes dele, porque sei que ele me iria proteger sempre dos maus e dos pesadelos.
Pai, és o único homem permanente na minha vida, aliás, o único homem a sério até agora. E podem vir uns príncipes de vez em quando, escalar a torre (porque a tua pequena princesa é osso duro de roer e não deixa  que todos subam ao castelo e conheçam a prateleira dos livros e a cómoda dos perfumes) e beijar os meus lábios delicados, mas tu serás sempre o meu Rei, o meu porto seguro. E por isso vou ser sempre a tua princesinha teimosa mas com um coração enorme que tu e a mãe me deram. 

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