Uma tempestade num copo d'água
«Então tu olhas para o meu copo d’água e dizes: “eu sou só um copo d’água, mas tu ficavas a olhar-me e a pensar nas bolhas e nos gelos e nos canudinhos e na transparência e se a água era isso ou aquilo. Água é só água, por que é que tu complicas a água?”. Então, apagaram a luz e eu quis esconder-me dentro do teu paletozinho de publicitário descolado e ouvir as tuas batidas descompassadas e embaladas pelo teu cheiro de alma boa. Mas tu pegaste na minha mão e continuaste a dizer que uma mão, muitas vezes, é apenas uma mão. Mas que eu insistia em olhar os buracos entre os dedos, os anéis que separavam os dedos, a dor da separação dos dedos, a gota da bebida gelada entre os dedos. E que tu não poderias suportar isso. A maneira como eu te olhava. Vendo mais, inventando mais, complicando mais. E eu quis dizer-te que tudo bem, eu seria uma menina simples. Eu mataria o meu narrador, as minhas possibilidades, os meus mundos, as minhas invenções. Só de ver os teus cachos mais grisalhos e rococós ornando os teus medos e superficialidades, eu desejei não ser mais eu pra ser qualquer coisa que pudesse ser tua. Mas enchi o meu peito surrado e murcho de coragem e disse-te que, infelizmente, onde você era apenas um copo d’ água eu era a tempestade.»
Tu és simples, calmo, imponente, és o copo d'água. E sou complicada, sentida, quebrada, sou a tempestade. Mesmo assim, quando eu vejo o mundo de forma diferente da tua, a gente continua a amar-se mais e mais. Talvez eu nunca soube outrora o que era o amor até entrar nesta loucura repentina, à uns meses atrás, desde o dia em que te conheci em que fiquei vidrada em ti. Tudo passou a girar em torno desse belo ser.
Meu amor, mesmo sendo tão diferentes e vivendo distantes de segunda a sexta, não mudes nem um pingo da matéria de gente de que és feito. Porque eu gosto tanto de ti assim, tal e qual.
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