Elas

Daqui, para todas as amigas do mundo, mas para as minhas, em especial.

«Tem dias em que a gente acorda e não quer a mãe, nem o namorado, nem o sapato novo e nem mesmo o Adam Levine. Tem dias em que a única solução é uma delas por perto. Tu e elas. 
Elas. Que colocam o dedo na ferida e de seguida fazem o curativo. Que te julgam e nunca te condenam. Que apontam todos os teus erros e desenham o mapa do caminho mais seguro. Que dizem que vão te matar se tu fizeres isso de novo e tu fazes de novo e elas não te matam. Resgatam-te. 
Tem dias em que a gente só queria que não tivesse trabalho, não tivesse distância, não tivessem maridos, namorados e casos. Que a gente queria acordar como nos velhos tempos, édredons para dormir no chão, sem hora para nos levantar. Pijama e elas. 
Elas, diariamente. Elas, que são a nossa terapia sem precisar dizer nada, pelo simples facto de estarem lá, a compartilhar as calorias, as frases decoradas dos filmes, as angústias secretas do nosso peito. Tem dias em que não dá pra esperar até sexta. Que tem que ser agora, como era na escola, na faculdade, na pós, na chegada no trabalho. Que vocês iam até à casa-de-banho pra conversar e chorar e rir e demorar e curar. Casa-de-banho e elas. 
Elas. Que são omnipresentes, que mesmo não estando, estão. Que mesmo quando a gente não se pode atirar nos seus braços, nos amparam. E que mesmo que a gente não consiga nem mesmo falar, contar, lamentar, mesmo que elas não saibam de nada, o simples facto de pensar nelas já acalma. 
Mas não basta. Tem dias em que o mundo parece injusto, que os dias parecem vazios, que as tecnologias parecem inócuas. Dias em que a gente quer que elas peguem no nosso cabelo, digam que precisamos de hidratar ou cortar as pontas. Que a gente quer segurar aquela mão tão conhecida, com verniz lascadinho na ponta. Dias em que a gente quer colo seguro de amiga. Segurança e elas. 
Elas que não têm o colo acolhedor da mãe, nem o peito protector do namorado, nem o poder de um sapato novo, nem o abdómen tatuado do Adam Levine. Mas que são um oásis quando a vida parece difícil, um norte quando estamos sem rumo, um cais para onde podemos eternamente voltar. Elas, as únicas que brigam, apontam e julgam sem doer. As únicas que atiram-nos as verdades evitadas, mas em cujas mãos viram purpurina. 
Elas, que pintam a vida nos dias cinzentos. 
Elas, que adoçam o peito quando ele ameaça ficar amargo. 
Elas. 
Elas e mais nada.»

Às minhas elas, C, M, S, V, e recém J e R.
Obrigada amigas, por estarem sempre lá.

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