Sobre o hoje que não existe nos arquitectos

Eu vivo de uma ânsia do amanhã e de que existe sempre um plano. A minha vida é planeada e deixo sempre pouca margem para o acaso. Seja paranóica, seja ansiosa, seja maluca, o que é certo é que eles dizem "Catarina, vive um dia de cada vez."...
E a Catarina fica confusa com esse conselho, e fica incomodada pela falta de compreensão dos outros!

"Aprende a viver um dia de cada vez" mas como se tudo em que tu pensas e tudo o que tu fazes tem a ver com o futuro?!
"Aprende a viver um dia de cada vez" mas como é que penetro o hoje enquanto sonho com novas viagens e novos lugares, enquanto me deleito e anseio uma nova aventura que está para chegar?
"Aprende a viver um dia de cada vez", dizem eles, que tudo o que pensam é no que passou.
"Aprende a viver um dia de cada vez", mas como se eu desenho o amanhã?

Talvez seja culpa da minha quase-profissão que me obriga a pensar no amanhã, a projectar para daqui a uns meses, a planear milimetricamente o futuro, para ver o que pus no papel daqui a uns anos.

Se eu desenho o amanhã, como posso estar só focada no hoje?! E o arquitecto, se não pensar nos dias que se seguem, não sabe o que é projectar. O arquitecto desenha constantemente para o futuro. E portanto, pensar no futuro é o que o faz acreditar na sua profissão.
Um arquitecto só desenha para o hoje se for fazer uma casa de cartolina. E ainda assim, quantos dias ás vezes são precisos para fazer uma casinha de papel para alguém que nem somos nós...

Viver, eu vivo todos os dias. Mas a minha cabeça viaja todos os dias para o amanhã. Porque amanhã, ou noutro dia que vier a seguir, aquilo que eu desenhei hoje, existirá.


*

A viver o horror e a felicidade que é   « A Tese ».

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